7.12.09

Memórias Ficcionais [2/10]

Era daqueles dias que começam já acabando, meu joelho doía, mas não saiba diagnosticá-lo, médico era minha segunda profissão pretendida quando muleque, a primeira era jogador de futebol, principalmente por causa das mulheres e fama, pobre garoto, talvez só uns dois porcento tem onde cair morto, dois porcento dos bons, os ruins eram um em um milhão, onde estavam meus cadernos de notas?! algum tempo adotei ter um caderno de notas pra organizar meu tempo, em alguma parte do trajeto bar-casa eles tinham desaparecido, ao menos da minha memória, enquanto preparava um pouco de café lembrei do sonho que tive, estava eu e minha professora do primário Betty transando num quarto que não sabia identificar, ela gritava como se estivesse sendo currada quando uns caras com armas e encapuzados entraram e começaram a disparar contra ela, levantei rápido, pulei uma janela e sai correndo como um louco por um matagal, santo deus, o que aquilo poderia ser? freud gozaria com algo assim, mas no final podia não significar merda alguma, apenas que o roterista dos meus sonhos se achava o Robert Rodriguez, tomei de um gole o café, me queimei, segui.

-------------------------------------------------------------------------------------

 Recebi uma promoção depois de alguns anos carregando sacas, agora eu viajava com elas e fiscalizava se tava tudo certo, era desses cargos que ninguem aceitava por não ter vantagem nenhuma, mas de alguma forma me deixava ocupado não pensando em merdas suicidas, foi nesse periodo que estabeleci um contato com a leitura, escrevo sobre o que vejo e o que vejo nem sempre é bom, o grande absurdo é que aquilo virou um maldito vício, escrever e ler, como se só tomar cervejas e falar besteiras não me preenche-se mais, por vezes no fim do espediente estava muito tarde pra voltar pra casa, então alugava um quarto barato e ficava alguns dias numa cidade estranha, quando ia a capital sempre me impressionava o quanto de gente estupida podia co-habitar junta, nos dias de folga ia a biblioteca, estava lá ontem quando entrei na fila da zeroz pra copiar alguns livros, fiquei secando uma oriental que também estava na fila, um cara franzino, barba por fazer, loiro de ohos azuis que parecia querer ir no banheiro entrou com um livro pesado na fila logo atrás de mim.
 - Isso é um dicionário? Perguntei ao ver um Aurélio de uns vinte quilos na mão do sujeito.  
 - É, é. Ele respondeu nervoso.
 - Legal...
 - Estudar, estudar, estudar. 
 - Hã?!
 - Estudar, estudar, estudar, agente tem que tá sempre estudando...
 - É...
 - Formado ainda tem que estudar.
 - Pode ser.
 Mostrou-me então uma carteirinha que indicava o mesmo como cirurgião dentista. olhei duas vezes a fotografia e o sujeito que parecia ser o mesmo, aparentava mais ser um aluno de educação física que não praticava exercício algum, usava uma calça de tecido e uma camisa branca surrada, torci para nunca precisar de uma cirugia com aquele cara, retornei meu olhar a fila onde a oriental ainda se encontrava, sempre tive tara por orientais, mas não era fácil achar as que valiam a pena, essa era uma delas, tinha uma boa anca e trejeitos sensiveis, o que me entretia facilmente, uma mulher baixinha entrou na minha frente eu me curvei para falar ao seu ouvido:
 - Aqui tem fila baby.
 - Eu estava na fila, BABY.
 - Tava mesmo, na fila, na fila. Falou o sujeito estranho confirmando a informação que ela deu.
Esperei minha vez, bati as xerox e segui pra casa, era o final da tarde de uma quinta feira e o céu estava alaranjado, comprei duas Antarticas num supermercado onde era mais barato, abri ali mesmo e segui pela rua, o vento bateu no meu rosto e senti-me a personificação da liberdade, comprei um sanduiche e me deram o troco em moedas, enquanto acabava a cerveja pensei em como Murphy era um grande filho da puta. 

Nenhum comentário: