12.8.09

Calor

 Descia as escadas enquanto pensava: Por que eu estava ali?, não se resolveu merda nenhuma e  perdi a chance de ir atrás de um emprego. Saíra do prédio e não sabia pra onde ir enquanto a porta refletia algo parecido comigo.
 Estava quente, como todos os outros dias na capital paraense e segui por entre as ruas estreitas do Comércio, partia para a rodoviária até que me deparei com o arquivo público do estado entre óticas, taxistas, "dinheiro fácil" e camelôs, era um prédio pomposo e não resisti em entrar um estante, nunca havia estado ali, tinha lustres imponentes e me deu até a impressão de haver um portal dimensional na porta, onde o interior respirava livros antigos e pessoas que não conversam muito, dei meu tema de pesquisa a uma atendente e disseram que ali não havia nada a respeito, me indicaram o museu da imagem e do som ali perto e como estava por ali mesmo segui... No endereço referido falei com um segurança que logo passou pra um diretor por telefone, peguei o telefone:
 - Diga
 - Sou estudante de história, queria pesquisar
 - O que?
 - Sobre Cinema no Pará 
 - Estamos fechados pra visitas, você é de onde?
 - Soure
 - Vamos funcionar apartir do dia 20
 - Então posso vir apartir desse dia?
 - Pode, vai trazer uma cabeça de bufalo pra nós?
 - Ninguem precisa de chifre nessa cidade.
 - Haha
 - Ha
 - ...
 - ...
 - ...
 - Então até dia 20
 - Isso
 Recolhi minhas coisas e segui,  eram quase meio-dia e o calor atrapalhava a vista do forte do Castelo e da igreja da sé, parti ao mercado comer algo, marcas de bonde no chão, turistas que não se importavam com o que vestiam, mendigos tomando banho ou dormindo na praça figuravam o trajeto, sentei-me na primeira barraca e pedi um pf (peixe frito) ,  fiquei a pensar numa garota que me tinha dito que não gostava do suor/calor do povão, de certo não é das coisas mais agradaveis, mas tem sua poesia imbutida, o calor da feira, os urubus, o cheiro de peixe do Ver-o-Peso e a venda de relógios clandestinos compõem de alguma forma o cenário ilusório daqueles que por ali passam, senti-me feliz por integrar aquela complexibilidade, peguei um onibus e depois outro a cidade próxima onde resido,  passei na banca pegar quadrinhos e dvd's já pagos, comprei passagens pra retornar a Belém pela metade do preço habitual e depois de passar por varios caixas eletronicos ruins no Bradesco depositei uma quantia ao pequeno Gregor, que ha tempos não vejo, o que estará fazendo o rebento?
  Estranhamento em casa, pessoas longe, teclado perto, alguem me liga.
 Uma grade de cerveja numa cidade estranha? ok? melhor não, preciso arrumar dinheiro, e fico com meus devaneios nostalgicos e tweets imbecis, o ciclo se forma novamente, locadora-cinema-internet-bar, 
*222#
Saldo
Recarga:R$00,54
[...]
 Ainda posso fazer uma ligação.
 





 Ela estará lá?