Descia as escadas enquanto pensava: Por que eu estava ali?, não se resolveu merda nenhuma e perdi a chance de ir atrás de um emprego. Saíra do prédio e não sabia pra onde ir enquanto a porta refletia algo parecido comigo.
Estava quente, como todos os outros dias na capital paraense e segui por entre as ruas estreitas do Comércio, partia para a rodoviária até que me deparei com o arquivo público do estado entre óticas, taxistas, "dinheiro fácil" e camelôs, era um prédio pomposo e não resisti em entrar um estante, nunca havia estado ali, tinha lustres imponentes e me deu até a impressão de haver um portal dimensional na porta, onde o interior respirava livros antigos e pessoas que não conversam muito, dei meu tema de pesquisa a uma atendente e disseram que ali não havia nada a respeito, me indicaram o museu da imagem e do som ali perto e como estava por ali mesmo segui... No endereço referido falei com um segurança que logo passou pra um diretor por telefone, peguei o telefone:
- Diga
- Sou estudante de história, queria pesquisar
- O que?
- Sobre Cinema no Pará
- Estamos fechados pra visitas, você é de onde?
- Soure
- Vamos funcionar apartir do dia 20
- Então posso vir apartir desse dia?
- Pode, vai trazer uma cabeça de bufalo pra nós?
- Ninguem precisa de chifre nessa cidade.
- Haha
- Ha
- ...
- ...
- ...
- Então até dia 20
- Isso
Recolhi minhas coisas e segui, eram quase meio-dia e o calor atrapalhava a vista do forte do Castelo e da igreja da sé, parti ao mercado comer algo, marcas de bonde no chão, turistas que não se importavam com o que vestiam, mendigos tomando banho ou dormindo na praça figuravam o trajeto, sentei-me na primeira barraca e pedi um pf (peixe frito) , fiquei a pensar numa garota que me tinha dito que não gostava do suor/calor do povão, de certo não é das coisas mais agradaveis, mas tem sua poesia imbutida, o calor da feira, os urubus, o cheiro de peixe do Ver-o-Peso e a venda de relógios clandestinos compõem de alguma forma o cenário ilusório daqueles que por ali passam, senti-me feliz por integrar aquela complexibilidade, peguei um onibus e depois outro a cidade próxima onde resido, passei na banca pegar quadrinhos e dvd's já pagos, comprei passagens pra retornar a Belém pela metade do preço habitual e depois de passar por varios caixas eletronicos ruins no Bradesco depositei uma quantia ao pequeno Gregor, que ha tempos não vejo, o que estará fazendo o rebento?
Estranhamento em casa, pessoas longe, teclado perto, alguem me liga.
Uma grade de cerveja numa cidade estranha? ok? melhor não, preciso arrumar dinheiro, e fico com meus devaneios nostalgicos e tweets imbecis, o ciclo se forma novamente, locadora-cinema-internet-bar,
*222#
Saldo
Recarga:R$00,54
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Ainda posso fazer uma ligação.
Ela estará lá?